ANGEOLOGIA - DOUTRINA DOS ANJOS.
As
palavras mais comuns para "anjos" no Novo Testamento
A palavra mais usada no Novo Testamento para "anjo" é aggelos, que é
a tradução regular na Septuaginta da palavra hebraica Mala'k. Ambas significam
'mensageiro". Aggelos é usada umas poucas vezes no Novo Testamento para
mensageiros humanos, como por exemplo os emissários de João Batista a Jesus
(Lc. 7.24; veja ainda Tg 2.25; Lc 9.52). Na maioria esmagadora das vezes, a
palavra refere-se aos mensageiros de Deus, que povoam o mundo celeste e
assistem em sua presença. Aggelos é usada tanto para anjos de Deus quanto para
os anjos maus.
Existe outro termo no Novo Testamento para se referir aos anjos, o qual só
Paulo emprega: "principados e potestades". Em duas ocasiões é usado
em referência aos demônios (Ef 6.12; Cl 2.13) e em três outras aos anjos de Deus
(Ef 3.10; Cl 1.16; 1 Pe 3.22). Em todos os casos, refere-se ao poder e á
hierarquia que existe entre esses espíritos. Uma outra palavra usada no Novo
Testamento para anjos e pneuma, geralmente no plural (pneumata), que se traduz
por espíritos". Embora o termo seja empregado geralmente para os anjos
maus e decaídos (quase sempre qualificado pelo adjetivo "imundo", cf.
Mt 12.43; Lc 4.36; At 8.7), é usado pelo menos uma vez para os anjos de Deus,
como sendo "espíritos administradores" (Hb 1. 14). Alguns estudiosos
têm sugerido que "espíritos" também se refere a anjos em outras
passagens onde a palavra pneumata aparece, como por exemplo 1 Co 14.12. Neste
versículo o apóstolo Paulo aprova e incentiva o desejo dos membros da igreja
por pneumata, expressão quase que universalmente traduzida como "dons
espirituais", devido ao contexto. De acordo com E. Earle Ellis, Paulo, na
verdade, não se refere a dons espirituais, mas aos anjos que estavam presentes
aos cultos (1 Co 11. 10). Sua tese é que existe uma relação estreita entre as
manifestações sobrenaturais que estavam acontecendo na igreja de Corinto e o
ministério angélico. Tais manifestações, ou parte delas, não eram produzidas
pelo Espírito Santo, e nem também por espíritos malignos, mas por estes
espíritos bons. Outras passagens onde "espíritos" significa
"anjos", segundo Ellis, são 1 Co 14.32; 1 Jo 4.1-3; Ap 22.6.1(1).
Embora esta sugestão seja interessante e provocativa, fica difícil ver como
"espíritos" produtores de dons espirituais se encaixam no contexto de
1 Co 14.12 e no ensino de Paulo de que os dons são dados pelo Espírito Santo. 0
uso de pneumata em 1 Co 14.12 (bem como nas demais passagens mencionadas acima)
pode ser explicado á luz de 1 Co 12.7, onde Paulo afirma que há diferentes
manifestações do Espírito Santo. Ou seja, o mesmo Espírito manifesta-se de
formas diferentes através de pessoas diferentes. Paulo refere-se a estas
manifestações como "espíritos". Elas eqüivalem aos dons espirituais.
E difícil admitir que Paulo aprovaria um desejo dos crentes de Corinto de
buscar estas entidades celestiais.
Anjos através dos livros do Novo Testamento
A presença e a atividade de anjos registradas nos evangelhos sinópticos
(Mateus, Marcos e Lucas) indicam invariavelmente a intervenção direta de Deus.
Como mensageiros fiéis de Deus, que têm acesso a presença divina (Lc 1. 19; cf
12.8; Mt 10.32; Lc 15.10), a visita ou a intervenção de um deles eqüivale a uma
manifestação divina. A encarnação e o nascimento de Jesus foram marcados pela
presença de anjos, indicando a participação direta de Deus no nascimento do
Messias (Mt 1.20; 2.13,19; Lc 1 . 11; 1.26-38). Embora os evangelhos não
registrem quase nenhuma participação direta dos anjos assistindo a Jesus em seu
ministério (o que poderia ter ocorrido, se Jesus quisesse, Mt 26.52), os anjos
acompanharam o Senhor e se rejubilaram a medida em que pecadores se arrependiam
(Lc 15.10). As poucas vezes em que se manifestaram visivelmente tinham como
propósito demonstrar que Ele era amado e aprovado por Deus (Mt 4.11; Lc 2143).
Os anjos ainda participaram da sua ressurreição, da anunciação ás mulheres, e
da anunciação aos discípulos de que Jesus havia de voltar (Mt 28.2-5; At
1.9-11). E o próprio Jesus também mencionou varias vezes que os anjos
participariam) da sua segunda vinda e do Juízo final (Mt 13.4 1; 16.27; 24.3
l).
Embora nos evangelhos a atividade dos anjos praticamente se concentre em tomo
da pessoa de Jesus, ele mesmo menciona uma atividade deles relacionada aos
homens, "cuidado para não desprezarem nenhum destes pequeninos. Eu afirmo
que os anjos deles estão sempre na presença do meu Pai que está no céu"
(Mt 18. 10, NVI). Aqui Jesus fala do cuidado vigilante de Deus pelos
"pequeninos ', através dos anjos. A quem Jesus se refere por
pequeninos" tem sido debatido pelos estudiosos, já que o termo pode ser
tomado literalmente (crianças) ou figuradamente (os discípulos). Talvez a
última possibilidade deva ser a preferida, já que Jesus usa regularmente
pequeninos" para se referir aos discípulos, cf Mt 10.42; 18.6; Mc 9.42; Lc
17.2. Qualquer que seja a interpretação, a passagem não está ensinando que cada
crente ou criança tem seu próprio "anjo da guarda", como era crido
popularmente entre os judeus na época da igreja primitiva. Fazia parte desta
crença que o anjo guardião" poderia tomar a forma do seu protegido (cf. At
12.15). Jesus está ensinando nesta passagem que Deus envia seus anjos para
assistir aos "pequeninos", e que, portanto, nós não devemos desprezar
estes "pequeninos". Esse ministério angélico para com os "pequeninos"
faz parte do cuidado geral que os anjos desempenham, pelo povo de Deus (cf. SI
9 1.11; Hb 1. 14; Lc 16.22). A passagem, portanto, não deve ser tomada como
suporte á crença popular em "anjos da guarda".
E importante notar que o Evangelho de João faz pouquíssimas referências á
atividade dos anjos, embora, segundo João, Jesus tenha dito aos seus
discípulos, no início do seu ministério, que eles veriam, os anjos subindo e
descendo sobre si (Jo 1. 5 1 ). Possivelmente esta passagem não deva ser entendida
literalmente no que se refere aos anjos, mas apenas como uma alusão ao sonho de
Jacó (Gn 28.12) e ao seu cumprimento na pessoa de Cristo (unindo o céu á
terra). No relato de João das boas novas, os anjos só revelam a sua presença ao
lado da sepultura de Jesus (Jo 20.12)(2).
Estes fatos indicam que as aparições angélicas durante o período cm que Jesus
esteve presente fisicamente entre nós foram relativamente poucas, e quase todas
associadas com o seu nascimento, ministério, morte e ressurreição. Era conveniente
que a vinda do Filho de Deus ao mundo fosse marcada por esta atividade angélica
especial.
Apesar de a narrativa do livro de Atos abranger um período marcado por intensa
manifestação sobrenatural, que foi o nascimento da igreja cristã, as aparições angélicas
registradas pelo autor são relativamente poucas. Não há aparição de anjos em
grupos, á exceção dos dois homens em vestes resplandecentes no local da
ascensão (At 1. 10- 11). Nas intervenções angélicas, é sempre um único anjo que
aparece, o qual é chamado de "um anjo do Senhor" (At 5.19; 8.26;
12.7,15) ou "um anjo de Deus" (10.3; 27.23). A expressão "anjo
do Senhor" não tem. em Atos a mesma conotação que no Antigo Testamento,
onde ás vezes este anjo é identificado com o próprio Deus. Em Atos a expressão
sempre designa um mensageiro angelical. Os anjos aparecem em Atos com a mesma
função principal, que no Antigo Testamento e nos Evangelhos, ou seja, trazer
uma mensagem oficial da parte de Deus (At 5.19; 10.' 10.22; 27.23). A isto se
acresce a função protetora, pois por duas vezes um anjo do Senhor libertou
apóstolos da prisão (At 5.19; 12.7). Uma outra missão de um anjo foi punir o
rei Herodes (At 12.23) missão esta já mencionada no Antigo Testamento (cf Ex
12.13; 2 Sm 24.17) A atividade dos anjos em Atos, além de bastante discreta, é
voltada quase que exclusivamente para o progresso do Evangelho. Um ponto de
grande relevância para nos hoje é que ela se concentra, em torno dos apóstolos
(At 5.19; 12.7 27.23) ou dos seus associados, como Filipe (8.26). A única
exceção foi a aparição á Cornélio (At 10,3). Mesmo assim ocorreu una ponto
crucial do nascimento da Igreja Cristã, que foi a inclusão do gentios na
Igreja. Á exceção deste caso não há registro de aparições de anjos ao crentes
em geral, nem para lhes trazer mensagens de Deus, nem para protege-los, embora
certamente eles estivessem ocupados em desempenhar esta última; função,
provavelmente de forma não perceptível aos crentes.
0 apóstolo Paulo é bastante ponderado no que escreve sobre os anjos, se com
parado com outros autores religiosos não cristãos da sua época. Ele emprega a
palavra aggelos apenas catorze vezes em suas treze cartas. Ele se refere aos
anjos de Deus, não tanto como mensageiro: celestes ou protetores dos crentes,
mas como participantes do progresso do plano de Deus neste mundo, que
participaram da entrega da Lei no Sinai (G1 3.19) e que virão com Cristo para
executar juízo sobre a humanidade (2 Ts 1.7). Estes são os "anjos
eleitos", que assistem diante de Deus (I Tm 5.2 1; cf. Gl 4.14). Uma
possível explicação para a atitude reservada de Paulo é que, para ele, o Senhor
Jesus, é a manifestação suprema de Deus, que suplanta todas as demais, diante
das quais as manifestações angélicas perdem em importância e relevância (Ef
1.21; Cl 1. 16; cf. Hb 1. 1-2). Em nenhum momento Paulo menciona em suas cartas
encontros angélicos que porventura teve, nem encoraja os crentes a buscar tais
encontros. Some-se a isso a preocupação que demonstra em suas cartas com
aparições e visões de anjos. 0 apóstolo teme que anjos caídos, passando-se por
anjos de Deus, manifestem-se em visões com o
alvo de enganar os crentes. Ele menciona a possibilidade de que um anjo do céu
venha pregar outro evangelho (G1 1. S), e que Satanás apareça dissimulado de
"anjo de luz" (2 Co 11.14). Ele alerta aos crentes de Colossos a que
não se deixem arrastar para o culto aos anjos propagado pelos líderes da
heresia que ameaçava a igreja, e que se baseava cm visões (C1 2.18).
Uma passagem surpreendente sobre anjos é Gl 3.19, em que Paulo diz que a Lei de
Deus foi entregue ao povo de Israel por meio de anjos. Esse fato no é
mencionado na narrativa da entrega da Lei a Moisés no livro de Êxodo. Sua
veracidade foi aceita possivelmente durante o período do segundo templo, quando
os anjos receberam cada vez mais lugar destacado na teologia do judaísmo,. ao
ponto de serem. reconhecidos como mediadores no Sinai, na hora da entrega da
Lei a Moisés por Deus. 0 fato foi aceito como verídico por judeus cristãos como
Estêvão (At 7.53), o autor de Hebreus (Hb 2.2), e por Paulo. Só que, enquanto
que para os judeus da sua época, a presença de anjos no Sinai era algo que
exaltava a glória da Lei, para Paulo, a presença destas criaturas era apenas um
sinal da inferioridade da Lei em comparação ao Evangelho, que havia sido
trazido pelo próprio Filho de Deus, sem mediação de criaturas.
Uma outra passagem difícil de entender nas cartas de Paulo é a enigmática
expressão de 1 Co 11. 10. "Por esta razão, e por causa dos anjos, a mulher
deve ter sobre a cabeça um sinal de autoridade". 0 que tem os anjos, a ver
com o uso do véu nas igrejas de Corinto? A resposta está ligada a um aspecto da
situação histórica específica da Igreja de Corinto no século I, que nós
desconhecemos. Havia uma idéia estranha na época de Paulo de que Gn 6.1-2 se
referia a anjos que se deixaram atrair pelos encantos femininos (uma tradição
rabínica acrescenta que foram os longos cabelos das mulheres que tentaram os
anjos), A falta de decoro e propriedade por parte das mulheres na igreja de
Corinto poderia novamente provocá-los. 0 mais provável é que Paulo se refira a
outro conceito corrente que os anjos bons eram guardiões do culto divino, o que
exigiria decoro e propriedade por parte de todos os adoradores. Este conceito
se encaixa perfeitamente no ensino do Novo Testamento de que os anjos observam
e acompanham o desenvolvimento do evangelho no mundo (ver Ef 3. 10,
1 Tm 5.12; 1 Pe 1. 12; Hb 1. 14).
Não há menção de anjos cm Tiago, e nem nas três cartas de João. Pedro menciona
apenas que os anjos anelam compreender os mistérios do Evangelho (1Pe 1. 12), e
que estão subordinados a Cristo (3,22). Em Judas encontramos mais uma
referência enigmática aos anjos, desta feita cm relação ao confronto do arcanjo
Miguel com Satanás, em disputa pelo corpo de Moisés (Jd 9). Esse incidente não
é narrado no Antigo Testamento, mas aparece num livro apócrifo que era bastante
popular entre os judeus chamado A Ascensão de Moisés. Neste livro o autor narra
que, após a morte de Moisés, sozinho no monte, Deus encarregou o arcanjo Miguel
de dar-lhe sepultura. 0 diabo veio disputar o corpo, alegando que Moisés era um
assassino (havia matado o egípcio), e que, portanto, seu corpo lhe pertencia.
De acordo com a Ascensão, Miguel limitou-se a dizer que o Senhor repreendesse os
intentos malignos de Satanás. Embora narrado num livro apócrifo, o incidente
deve ter ocorrido, e Deus permitiu que, através de Judas, viesse a alcançar
lugar no cânon do Novo Testamento.
A carta aos Hebreus menciona os anjos nada menos que 13 vezes, 11 das quais nos
dois primeiros capítulos, onde o autor procura estabelecer a superioridade de
Cristo sobre os anjos (Hb 1.4-7,13; 2.2,15,16). A razão para esta abordagem foi
possivelmente a exaltação dos anjos por parte de muitos judeus no século I. 0
autor, escrevendo a judeus cristãos sentiu a necessidade de diferenciar a
mensagem do evangelho trazida por Cristo, e as muitas mensagens e mensageiros
angelicais que infestavam a crendice popular judaica no século I.
E no livro de Apocalipse que temos a maior concentração no Novo Testamento do
ensino sobre anjos. É o livro do Novo Testamento que mais emprega a palavra
aggelos (67 vezes). Aqui os anjos aparecem como agentes celestes que executam
os propósitos de Deus no mundo, como proteger os servos de Deus (Ap 7.1-3) e
administrar os juízos divinos sobre a humanidade incrédula e impenitente (Ap
8.2; 15.1; 16.1). Apocalipse está cheio das visões que o apóstolo João teve do
céu, e os anjos aparecem como habitantes das regiões celestes, ao redor do
trono divino, em reverente adoração a Deus e ao Cordeiro (Ap 5.11; 7.11),
mediando ao apóstolo João as visões e as instruções divinas (Ap 1.1).
Uma questão que tem atraído o interesse dos intérpretes é o sentido da palavra
"anjo" em Ap 1.20, "os anjos das sete igrejas" (cf Ap
2.1,8,12,18; 3,1,7,14).Alguns acham que João se refere aos pastores das igrejas
às quais endereça suas cartas, já que em Malaquias os líderes religiosos são
chamados de anjos (MI 2.7). Ou então, aos mensageiros (aggelos) das igrejas que
haveriam de levar as cartas às suas comunidades. 0 problema com estas
interpretações é que a palavra aggelos em Apocalipse nunca é usada para seres
humanos, mas consistentemente para anjos. Por este motivo, outros, como
Origenes no século II, acham que João se refere a anjos reais, já que este é o
uso regular que ele faz da palavra no livro. Estes anjos seriam os anjos de
guarda de cada igreja a quem João manda uma carta. A dificuldade óbvia com esta
interpretação é que as advertências e repreensões das cartas seriam dirigidas a
anjos, e não aos membros da igreja. Além do mais, fica claro pelo
fim de cada carta que elas foram endereçadas aos membros das igrejas (2.7,11,17
etc). Assim, outros estudiosos têm sugerido que "anjos" representam o
estado real de cada igreja, o "espírito" da comunidade. Esta idéia,
que no deixa de ser curiosa e estranha, tem sido adotada por alguns que
defendem que igrejas têm suas próprias entidades espirituais malignas, que se
alimentam dos pecados não tratados das mesmas(3). Fica difícil tomar uma
decisão. Mas, já que é evidente que os anjos e as igrejas são uma mesma coisa
nestas passagens, a " interpretação que talvez traga menos dificuldades é
que aggelos (anjos) se refere aos pastores das igrejas.
Anjos em batalha espiritual
Uma outra passagem cm Apocalipse que merece destaque é a que descreve uma
batalha no céu entre Miguel e seus anjos, contra o dragão e seus anjos, onde
Satanás é derrotado e lançado á terra (Ap 12.7-9). A que evento histórico esta
guerra celestial corresponde tem sido bastante discutido. Para alguns,
refere-se á queda de Satanás no principio, quando revoltou-se contra Deus e foi
expulso dos céus. Para outros, a vitória final de Cristo, ainda por ocorrer no
fim dos tempos. 0 contexto, entretanto, parece favorecer outra interpretação,
ou seja, que esta derrota de Satanás nas regiões celestiais corresponde à
vitória de Cristo, ao morrer e ressuscitar, já que ela aconteceu, "por
causa do sangue do cordeiro" (Ap 12. 10; cf. Jo 12.3 1; 16.1 l).À
semelhança do Antigo Testamento, o Novo é igualmente reservado em narrar estas
pelejas celestiais, e limita-se a registrar dois confrontos do arcanjo Miguel
com Satanás (Jd 9; Ap 12.7-9). Não temos condições de saber quais as razões
para estes embates entre anjos, e nem quão freqüentemente eles ocorrem no
misterioso mundo celestial.
Digno de nota é o fato que Miguel, que no Antigo Testamento aparece como
guardião de Israel, surge aqui em Ap 12.7-9 como defensor da Igreja, liderando
as hostes angélicas contra Satanás e seus demônios, que procuram destruir a
obra de Deus. Sua área de ação não e mais o território de Israel, mas o mundo,
onde quer que a Igreja esteja. A constatação deste fato deveria moderar a
fascinação de muitos hoje pela idéia de espíritos territoriais, maus ou bons,
que seriam supostamente responsáveis por determinadas regiões geográficas, e
que se embatem em busca da supremacia sobre aqueles locais. É possível que as
nações ou outras regiões tenham seus príncipes angélicos, bons ou maus, mas
esta idéia não exerce qualquer função ou influência no ensino do Novo
Testamento, quanto aos anjos e á sua participação na luta da igreja contra os
"principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso" (Ef 6.12). Enquanto que em Daniel os principados e as potestades
aparecem relacionados com determinados territórios, no Novo Testamento eles
aparecem não mais relacionados com regiões, mas com este mundo tenebroso. 0
conflito regionalizado do Antigo Testamento tomou caráter universal e cósmico
com a vitória de Cristo. 0 diabo e seus príncipes malignos são vistos agora
como dominadores, não de determinadas regiões geográficas, mas "deste
mundo tenebroso". E os anjos agora servem aos servos de Deus, em qualquer
região geográfica do planeta, onde se encontrem.
Notas de rodapé
1 Ver E. Earle Ellis, Spiritual GIffs in the Pauline Community, em New Testment
Studies 20 (1973-1974) 134.
2 Existe séria dúvida da
parte de muitos especialistas em manuscritologia bíblica de que a passagem de
João 5,4, que menciona a decida de um anjo para mover a água da piscina de
Betesda, seja de fato autêntica, visto que não aparece nos manuscritos mais
antigos importantes.
3 Neuza ltioka, por exemplo, afirma que os anjos das cartas de Apocalipse (Ap
2-3 são anjos literais que Incorporam e absorvem o estado espiritual da Igreja,
e que alguns deles são substituídos por demônios, devido á decadência
espiritual da comunidade que representam. Ela baseia-se nas sugestões (sem
exegese) de Walter Wink e R. Linthicum em Ap 2-3, cf. A Igreja e a Batalha
Espiritual: Você Está Em Guerra em Série Batalha Espiritual (São, Paulo:
Editora SEPAL 1994) 36,39,40-41,67,11 Fonte: Revista Fides Reformata
Parte III
ANJOS: UM
SERVIÇO SECRETO MUITO ESPECIAL
A
partir de 1994, o Brasil começou a viver uma moda mística, a febre dos anjos.
Sem dúvida, quem deu início a essa moda foi uma jovem senhora que antes
trabalhava com orixás e depois, através da Fraternidade Branca, com gnomos,
duendes, silfos, ondinas, fadas e salamandras. O nome dela é Mônica Buonfiglio.
Seus dois sucessos editoriais foram Anjos Cabalísticos e A Magia dos Anjos
Cabalísticos.
Mas, apesar de seu aspecto bombástico, essa moda teve um lado positivo, colocar
em pauta a discussão sobre a existência ou não dos anjos. E é sobre isso que
desejamos falar.
Muitas pessoas, em nome da racionalidade, lançam fora a água e a criança. Negam
não somente o misticismo eclético da Nova Era, mas também a realidade do mundo
espiritual. Criticam um erro, a superstição, e despencam em outro, o
agnosticismo racionalista.
O maior e mais antigo tratado sobre anjos é a Bíblia. No Antigo Testamento,
cujos escritos vão do segundo milênio aos anos quatrocentos antes de Cristo,
temos 109 referências a anjos. A palavra hebraica para anjo é mal'akh, cuja
idéia básica é de um mensageiro sagrado, humano ou sobrenatural. Já no Novo
Testamento, cujos escritos vão dos anos 49 a 100 depois de Cristo, temos 186
referências a anjos. Em grego a palavra usada é ângelos, que também tem o
sentido de mensageiro, de intermediário.
É interessante que na Bíblia os anjos não tem nada a ver com a angelologia
proposta pela Nova Era. Segundo Mônica Buonfiglio, por exemplo, os anjos são
entidades etéreas, que não tem memória e nunca julgam. São como bebês...nus,
com asas, bochechudos e com um sorriso maroto de criança arteira [Mônica
Buonfiglio, Anjos Cabalísticos, São Paulo, Oficina Cultural Esotérica, 1993, p.
64].
INTELIGENTES E PODEROSOS
Embora o assunto seja extenso, vejamos três aspectos da doutrina cristã sobre
anjos, que responde à pergunta central sobre estes seres. Por que existem os
anjos?
Os anjos são seres espirituais.
Têm atividades definidas pelo próprio Deus.
Protegem os filhos de Deus.
Em relação ao primeiro item, é interessante ver que a Bíblia nos apresenta os
anjos como seres espirituais, geralmente invisíveis. "Então, o que são os
anjos? Todos são espíritos que servem a Deus e são mandados para ajudar os que
vão receber a salvação". Hebreus 1.14 [Nas citações bíblicas foram
utilizadas duas versões: A Bíblia Sagrada, tradução na Linguagem de Hoje, São
Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1988; e A Bíblia de Jerusalém, São Paulo,
Edições Paulinas, 1985].
Os anjos têm personalidade e inteligência. "Ele fez isso para resolver
este caso. O senhor é sábio como um anjo de Deus e sabe tudo o que
acontece". 2 Samuel 14.20.
Têm também direito de escolha e sentimentos, e isso fica claro quando se refere
a Satanás, um anjo rebelado. "Você ficou ocupado, comprando e vendendo, e
isso o levou à violência e ao pecado. Por isso, anjo protetor, eu o humilhei e
expulsei do monte de Deus, do meio das pedras brilhantes. Você ficou orgulhoso
por causa da sua beleza, e a sua fama o fez perder o juízo". Ezequiel
28.16-17.
E o próprio Jesus fala da alegria dos anjos. "Pois digo que assim também
os anjos de Deus se alegrarão por causa de uma pessoa de má fama que se
arrepende". Lucas 15.10.
A primeira conclusão é de que são seres espirituais, a serviço de Deus, para
ajudar aqueles que serão salvos. Geralmente aparecem como adultos, têm
capacidades especiais, memória, uma inteligência aguçada e sentimentos. De
certa forma, não são muito diferentes de nós.
Esses seres ministradores tem atividades específicas. Adoram e servem a Deus.
"Louvem ao Deus eterno todos os anjos do céu, que o adoram e fazem a sua
vontade". Salmo 103.21.
Participarão do juízo divino, conforme explica o apóstolo Paulo: "Porque
Deus fará o que é justo. Ele trará sofrimento sobre aqueles que fazem vocês
sofrerem e dará descanso a vocês e também a nós que sofremos. Ele fará isso
quando o Senhor Jesus vier do céu e aparecer junto com seus anjos
poderosos". 2Tessalonicenses 1.6-8.
Eles trazem importantes notícias, instruem e guiam os filhos de Deus. Segundo o
escritor da carta aos Hebreus, os mandamentos foram entregues a Moisés por
anjos. "Por isso devemos prestar mais atenção nas verdades que temos
ouvido, para não nos desviarmos delas. Ficou provado que a mensagem que foi
dada pelos anjos é verdadeira, e aqueles que não a seguiram nem lhe obedeceram
receberam o castigo que mereceram". Hebreus 2.2.
Ao contrário do que a vulgarização sobre angelologia prega, eles não estão
debaixo da nossa vontade. Mas agem de acordo com a justiça de Deus nos
julgamentos divinos. Participaram dos juízos de Sodoma e Gomorra, do Egito
opressor, da destruição do exército de faraó na travessia do Mar Vermelho e em
muitos outros eventos. E estarão com Cristo por ocasião do grande julgamento
final.
MISSÃO ESPECIAL
E por fim, protegem e cuidam dos filhos de Deus. "O anjo do Deus Eterno
fica em volta daqueles que O temem e os livra do perigo". Salmo 34.7.
Dessa maneira, uma de suas principais tarefas, é acompanhar os filhos de Deus,
em todos os momentos de suas vidas, mas especialmente naqueles de dificuldades.
Não damos ordens aos anjos, já que eles são ministros de Deus, agentes secretos
do Criador para proteção e guarda de seus filhos.
É interessante que a angelologia mística da Nova Era propõe um relacionamento
com os anjos através de práticas esotéricas, via astrologia, numerologia e
ancoragem (magia branca). São utilizadas dezenas de invocações, velas, incensos
e talismãs. Tudo para manipular os anjos. Estamos, de fato, diante de uma
cosmovisão gnóstica e espírita. Conforme, explica o teólogo Scott Horrell, esta
é "uma angelologia sem Deus definido, sem estrutura moral e sem explicação
sobre o porque da própria existência dos anjos" [J. Scott Horrell, Anjos
Cabalísticos, in Vox Scripturae, São Paulo, AETAL, 1995, p. 245].
Diante das modas místicas, todos aqueles que se aproximam de Deus devem se
lembrar do que diz Paulo, o apóstolo: "Pois há um só Deus e um só mediador
entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu em resgate por
todos". 1Timóteo 2.5.
Parte IV
ESPÍRITOS
MINISTRADORES
"Quanto aos anjos, diz: Quem de seus anjos faz
ventos, e de seus ministros labaredas de fogo. ... Não são todos eles espíritos
ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a
salvação?" (Hb 1.6,7,14)
Anjos constituem uma raridade em nossos púlpitos, por isso estas páginas foram
escritas. Além disso, a insistência com que se explora essa temática,
especialmente pelos adeptos dessa onda de misticismo que tem invadido as praias
dos nossos dias, a ênfase dada pelo movimento da Nova Era, que tem levado às
raias do absurdo mais absurdo o assunto do mundo angelical, e a exploração
comercial em torno da ingenuidade e das carências emocionais e afetivas do
povo, é outro bom motivo para que se reflita biblicamente sobre o tema.
Muita idéia de anjos vem de cartões de Natal, de procissões da Semana Santa, de
romances ou da mitologia grega (não fala de um anjinho, Cupido, que lança uma
flecha a qual, atingindo alguém, o torna enamorado de outro? Muita idéia vem
dessas fontes, e também do Movimento Aquariano colocando no mesmo cesto fadas,
duendes, gnomos, ondinas e anjos.
PRIMEIRAS IDÉIAS
Os seguidores da atual onda mística afirmam que se pode incorporar os anjos aos
programas de autodesenvolvimento e auto-ajuda, do mesmo modo com fazem com as
fadas, os duendes e outros seres míticos. E se é o caso de teremos uma
descrição dos anjos de acordo com a Nova Era, dirão eles o seguinte:
"carinha linda, asas, roupas esvoaçantes e halo sobre a cabeça"(1) E
completam dizendo que apreciam uma abordagem direta, têm grande senso de humor
(gostam de rir, portanto), são felizes, alegres, brincalhões, amigáveis; o
tempo não é um dos seus pontos fortes, e, desta maneira, perdem-se em
divagações, ou seja, a cabeça dos anjos não funciona muito bem, não têm muita
memória.(2) Essas afirmações não se assemelham, nem de longe, a qualquer das
descrições ou características dos anjos de acordo com a Bíblia Sagrada. E menos
ainda, quando os místicos os confundem com o que chamam de
"elementais", e fazem a classificação dos seres no ar, na terra, na
água e no fogo:
No ar: fadas e silfos;
na terra: gnomos, duendes, elfos, dríades e ninfas;
na água: ninfas da água, náiades e ondinas;
no fogo: salamandras.(3)
Na verdade, essas esdrúxulas idéias e suas elaborações vêm de uma fonte chamada
gnosticismo, movimento filosófico-teológico que já nos primeiros dias da Igreja
Cristã deu muito trabalho. E isso porque enfatizava, como enfatiza ainda hoje,
a idéia de que os anjos são expressões ou extensões de Deus, e pregam, também,
que eram e são intermediários entre os homens e Deus.
Uma coisa é certa: a Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, trata
esse assunto com muita seriedade, com o máximo de seriedade a ponto de dar a
melhor definição de quem sejam os anjos, a qual se encontra em Hebreus 1.14;
"Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor
dos que hão de herdar a salvação?"
Ou como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje:
"Então, o que são os anjos? Todos eles são espíritos que servem a Deus e
são mandados para ajudar os que vão receber a salvação".
Martinho Lutero, o Reformador, expressou isso parafraseando Hebreus:
"O anjo é uma criatura espiritual sem corpo, criada por Deus para o
serviço da Cristandade e da Igreja"(4)
OUTROS CONCEITOS
A palavra anjo não é portuguesa. Na verdade, vem da língua grega através do
latim. Em grego, dizem aggelos, daí para o latim angelus e para o português
anjo. No Antigo Testamento, o vocábulo hebraico correspondente é malach.(5)
Significam todas elas "aquele-que-traz-mensagem",
"aquele-que-é-enviado", "mensageiro". O Pr. Vassílios
Constantinides, Diretor nacional da APEC e grego de origem, confirmou-nos o que
havia sido lido no dicionário. Disse: "em grego, 'carteiro' é
"anjo", "o-que-traz-uma-mensagem". Palavra, portanto, que
indica uma função. E, na Bíblia, vemos que Deus envia profetas como seus
mensageiros,(6) envia sacerdotes(7), diz que homens enviam outros homens(8). De
sorte, que a Bíblia apresenta o fato de que anjos são personalidades com função
determinada, ou seja, a de trazer uma mensagem de Deus para nós.
A Bíblia não apresenta qualquer descrição detalhada dos anjos. Eu, na verdade,
nunca vi um anjo (apesar de Ariete dizer que estou vivendo com um há 36 anos).
A Bíblia menciona sua existência como um fato, mostrando que têm eles uma parte
relevante no plano de Deus para o ser humano(9).
Voltando à Carta aos Hebreus: "Não são todos eles espíritos ministradores,
enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação?" (1.14).
Quero tomar duas palavras deste texto para servir de base para esta mensagem.
Primeiramente, "espírito", e, em seguida, "ministradores".
ESPÍRITOS...
A idéia básica da palavra "espírito", por incrível que possa parecer,
vem de "vento, ar". Realmente, tanto na língua hebraica quanto na
grega, os vocábulos que se traduzem por "vento, ar, hálito, alento,
respiração, fôlego e espírito" são os mesmos. Tanto faz dizer ruach, que é
a palavra hebraica, quanto dizer pneuma, que é grega. Sim; o ar é algo muito
real, mas não podemos vê-lo a olhos vistos, com perdão da redundância. Podemos?
Mas ele é real: sabemos que ele nos circunda, mas não o vemos. Assim são os
espíritos, e assim são os anjos: reais, mas não os vemos, puros espíritos.
Filon de Alexandria os chamava de "incorpóreos" (apesar de poderem
aparecer em certas ocasiões com corpos humanos)(10). Mas a Bíblia prefere
chamá-los de "espíritos", como em hebreus 1.14, "espíritos
ministradores".
Aprendemos com a Bíblia que são superiores ao ser humano em inteligência, em
vontade e em poder (11). Têm personalidade e responsabilidade moral como nós o
temos. No entanto, apesar de sua inteligência ser sobre-humana, é limitada. Ou
seja, não são oniscientes (só Deus o é), não conhecem o futuro (isso pertence a
Deus), não conhecem os segredos de Deus(12). Por causa da vontade livre deles,
alguns anjos pecaram, e a Bíblia faz referência a essa Queda de um grupo de
anjos(13). O poder dos anjos que é delegado, nos supera em muito conforme
tantos testemunhos na Escritura Sagrada(14). Isso quer dizer, então, que os
anjos têm todos os elementos essenciais da personalidade, e além dos acima
mencionados, possuem sensibilidade, emoções, e são capazes de adorar a Deus com
inteligência (Sl 148.2).
E porque o Deus Vivo e Verdadeiro é Deus de ordem e não de confusão(15), os
anjos estão organizados em uma hierarquia. E, realmente, amado, quando fazemos
o estudo dos anjos, distinguimos três etapas. Primeiramente, o que fala a
Bíblia até o Exílio na Babilônia; em seguida, do Exílio ao Novo Testamento,
quando veio Jesus e ministrou entre nós; e, por último, o Novo Testamento.
É interessante que do início da História Sagrada até o Exílio (c. 527 a.C.),
observamos que não há uma angelologia elaborada. O que temos são narrativas,
bem lineares, até. E há uma presença marcante: a de uma figura chamada "o
Anjo do Senhor". Vemos no Gênesis, em Êxodo e outros dessa primeira fase,
a sua presença ostensiva e marcante.
Do Exílio em diante, a crença, a princípio simples, vai tomar um
desenvolvimento muito especial. Existe, inclusive o surgimento de toda uma
literatura chamada pelos estudiosos do assunto de intertestamentária, que
surgiu entre o último profeta da Antiga Aliança (Malaquias) e o primeiro da
Nova Aliança (João, o Batista). Não são anos de tanto silêncio, como geralmente
se ensina. Há uma literatura denominada intertestamentária, como já destacado,
notadamente encontramos literatura dessa época nos livros de Daniel e Zacarias,
livros que mencionam a presença de anjos.
O Novo Testamento, por sua vez, reflete os principais ensinos do Antigo
Testamento, e categorias e conceitos da literatura intertestamentária.
Anjos são organizados como um exército. Interessante e bonito isso! No topo
estão os arcanjos, anjos comandantes, chefes(16). Menciona em seguida tronos,
dominações, principados, potestades, virtudes, que sejam designações
hierárquicas dos anjos numa elaboração de um esquema bem organizado (cf. Cl
1.16; Rm 8.38; Ef 1.21).
Paulo, em Efésios 6, coloca essas categorias ou hierarquias no exército do
Maligno também (17). Existe o exército de Deus, mas o Maligno tem igualmente o
seu com os mesmos princípios: um arcanjo, que é Lúcifer, encontrando-se, do
mesmo modo, principados, potestades, dominações, etc. Paulo, mesmo, declara que
Jesus Cristo já desarmou e venceu essas forças da malignidade:
"e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas
ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na
cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e
deles triunfou na mesma cruz" (Cl 2.14,15).
Na verdade, ainda sentimos os efeitos dessa força maligna porque ainda estamos
nesta carne, porque ainda estamos no tempo, mas a Bíblia já declara a vitória
do Senhor sobre as forças do Inferno. Jesus cravou na cruz a nossa malignidade,
o nosso pecado! Por essa razão, os crentes não podem se desencaminhar pelo
culto dos anjos, e Paulo fala disso também nesse mesmo capítulo: "Ninguém
atue como árbitro contra vós, afetando humildade ou culto aos anjos,
firmando-se em coisas que tenha visto, inchado vãmente pelo seu entendimento
carnal" (v.18). Esse culto aos anjos estava sendo levado pelos gnósticos
para dentro das igrejas, ensinando que os anjos eram intermediários entre a
pessoa e Deus. Está, aliás, retornando com toda força como o faziam os
gnósticos dos tempos apostólicos, como influência do platonismo, e das escolas
teosóficas que desaguaram no gnosticismo, assim como influência da Cabala.
Querem fazer os anjos superiores a Cristo e ao Espírito Santo (Ele que é o
nosso guia, e não os anjos(18); querem elevar os anjos a divindades, mesmo que
sejam divindades menores, os devas(19).
E os serafins? A palavra serafim é interessante porque em hebraico o verbo
saraph significa "arder, pegar fogo, queimar". O serafim é
"aquele-que-queima"; o que queima purifica: é, então,
"aquele-que-purifica". São guardiães, também, da santidade do Eterno
lembrando o fogo e sua obra de purificação. E, realmente, só aparecem os
serafins uma vez em Isaías 6, na visão do profeta, com seis asas. A propósito,
anjo tem asas? Não; a figura das asas em anjos é para mostrar graficamente a
presteza, a velocidade com que executam as ordens de Deus. No entanto, não
vamos encontrar os mensageiros de Deus com asas em Sodoma, ou guiando Agar no
deserto, ou o povo de Deus na peregrinação no deserto. A única menção é a dos
serafins, e outra no Apocalipse a respeito de anjos alados(24).
E o arcanjo? Na Bíblia só aparece o nome de um que é Miguel(25). E tem ele
sempre papel combativo. Quem é Miguel? Qual a diferença de Miguel para Gabriel?
Miguel é aquele que está relacionado a missões guerreiras; é quem comanda as
batalhas do Senhor. Então, sempre que lerem ou ouvirem o nome Miguel,
lembrem-se que é ele o anjo guerreiro por excelência(26). É o mensageiro da lei
e do julgamento(27), e seu próprio nome que é, aliás, uma pergunta retórica, é
um grito de batalha e significa "QUEM É COMO DEUS?"e tem como
resposta: "Ninguém!" Quem pode ser como Deus? Um hineto muito
apreciado em nossas igrejas canta:
"Quem é deus acima do Senhor?
Quem é rocha como o nosso Deus?"
A resposta só pode ser uma: "Ninguém!" É isso o que Miguel, que
sempre aponta para Deus, nos está lembrando!
E Gabriel? Agora é diferente. Se Miguel é o anjo guerreiro por excelência,
Gabriel é o que está relacionado com missões de paz. É o contrário: Gabriel é o
mensageiro das boas notícias, é o mensageiro das mensageiro, o mensageiro da
promessa de Deus, é o anjo da revelação, é quem explica mistérios a respeito de
futuros acontecimentos, até políticos(28). É mencionado quatro vezes na Bíblia,
e sempre como mensageiro: Daniel 8.16; 9.21, e novamente no Evangelho de Lucas,
capítulo 1 notificando a Isabel e a Maria, sobretudo, que ela vai ser a mãe do
Salvador(29). Gabriel é um nome muito sugestivo e significa "Herói de
Deus", "Valente de Deus", "Campeão de Deus".
...MINISTRADORES
Voltemos a Hebreus 1.14:
"Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor
dos que hão de herdar a salvação?"
O texto diz que, além de "espíritos", são os anjos
"ministradores" a favor dos salvos. Qual é, então, o seu ministério?
Há uma ministração celestial e uma ministração terrena. Há um serviço
litúrgico, cultual dos anjos na adoração ao Criador:
"Louvai-o, todos os seus anjos;
louvai-o, todas as suas hostes!" (30)
Ministério cultual, ministério de louvor. Também assistem o Senhor. Estavam
presentes na Criação(31); estavam presentes na revelação da Lei(32); estavam no
nascimento de Jesus(33); na tentação(34); no Getsêmani(35); na
ressurreição(36); e na ascensão(37). Em todos esses eventos, os anjos estiveram
presentes, e estarão, igualmente, na Parousia, a Segunda Vinda de Cristo(38).
Há uma ministração aos salvos. No programa divino para nós, os anjos estão
envolvidos em quatro tipos de atividades: proteção, transporte, comunicação e
vigilância.
Proteção ou guarda. Temos um grande conforto na Palavra Santa, que usa a
abençoada expressão "O anjo do Senhor acampa-se ao redor daqueles que o
temem e os livra"(39). Porém, não estamos nos referindo ao chamado
"anjo da guarda". Esse é um conceito que vem da Igreja Majoritária.
Basílio e Jerônimo, teólogos da Igreja Antiga lançaram a idéia de que quando
nasce uma criança, a ela é atribuído um anjo para a guardar durante toda vida.
Interessante é que quando Orígenes disse que, ao mesmo tempo que um anjo é
colocado ao lado da criança, um demoniozinho também lhe é atribuído. De um lado
fica um anjinho tomando conta e do outro lado fica um diabinho espicaçando cada
um de nós. Essa é a razão porque nas histórias em quadrinhos ou em desenhos
animados aparece, numa hora de tentação, o diabinho procurando tentar de todo
jeito.
Essa idéia de anjo da guarda, então, está baseada no papel de um arcanjo
chamado Rafael, não mencionado na Bíblia, mas no livro apócrifo de Tobias. Eu
não creio em "anjo da guarda", mas creio, sim, em um
"anjo-que-guarda". Creio no anjo do Senhor que nos guarda, de acordo
com o que a Bíblia diz no Salmo 34.7. Ou ainda em Daniel 6.22 que diz, "O
meu Deus enviou o Seu anjo e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem
dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; e também contra ti, ó
rei, não cometi delito algum".
Temos outros exemplos notáveis no Antigo Testamento. No Segundo livro dos Reis
6.15ss, há um exemplo dessa guarda. No Novo Testamento, no capítulo cinco de
Atos, também. Nesse ponto, alguém pode perguntar, "Pastor, acontece hoje
também essa guarda dos anjos, ou isso aconteceu somente nas páginas da
Bíblia?" Isso ocorre ainda hoje. Na história de John Patton, missionário
do século passado nas Novas Hébridas, há uma página onde ele conta que quando
foi pregar o evangelho, era muito hostilizado. As tribos que ali havia eram
canibais e tentaram matá-lo com toda a família. Patton diz que cercaram a sua
casa e ele e a família começaram a orar durante toda a noite. Fizeram uma
vigília de oração porque estavam literalmente no vale da sombra da morte. E
eles oraram, e oraram, e quando um terminava de orar o outro começava, o outro
depois, o outro depois. Orou ele, a esposa, os filhos oraram, quando terminava
voltava toda aquela corrente de orações. Os homens foram embora, saindo sem
tocá-los. Cerca de um ano depois dessa noite de terror, o chefe da tribo
converteu-se ao evangelho, e conversando com o missionário Patton,
perguntou-lhe "Eu queria saber uma coisa: nós estivemos cercando a sua
casa para matá-los. E não podíamos, porque durante a noite víamos aquele
exército. Onde é que você escondia aqueles homens todos durante o dia? Por que
só apareciam à noite?". E então o missionário respondeu que não havia mais
ninguém, somente ele e sua família. O chefe disse, "Não, de jeito nenhum,
havia homens, sim. Eram de grande estatura, estavam vestidos de branco e com
espadas na mão. Os nativos ficaram com medo e fugiram..." E o Pastor
Patton entendeu que Deus havia mandado os Seus anjos para proteger a família
naquele vale da sombra da morte de acordo com o que diz o Salmo 23.
Uma outra função dos anjos é de transporte. Mas não é quando há engarrafamento.
Alguém pode pensar, "Bom, eu acho que o pastor está atrasado porque houve
um engarrafamento; não vai haver problemas porque um anjo pega o pastor e traz
para a igreja. Afinal, são colegas, são dois anjos..." Não é assim. Essa
função de transporte acontece na nossa morte. Está na Bíblia, Lucas 16.19-22:
"Havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e
vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também certo mendigo,
chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele, e desejava
alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico. Morreu o mendigo e foi
levado pelos anjos para o seio de Abraão".
Ele não foi acompanhado não, ele foi transportado segundo a Escritura Sagrada.
Uma outra função é a de comunicação(40). Mas não para aumentar a Bíblia. Nada
de chegar um anjo ensinando um novo evangelho para completar, como acontece com
os mórmons que ensinam que um anjo chamado Moroni passou uma nova revelação a
Joseph Smith. A Bíblia diz que é anátema (maldição), se alguém aparecer
querendo pregar um novo evangelho. Por isso, não aceitamos o mormonismo, ou o
islamismo que diz a mesma coisa, o espiritismo com um evangelho à sua moda ou
qualquer acréscimo ao bel-prazer de qualquer tribunal canônico. Fujam de quem
vem com uma mensagem nova. Fujam de quem vem com uma nova revelação, seja
pregador, pregadora, ou um ser disfarçado de anjo(41).
Há uma outra função. É a de observação. Porque os anjos observam aquilo que nós
fazemos, os anjos são testemunhas do drama da salvação, os anjos estão
interessados na conduta dos crentes. O apóstolo Paulo diz, "Tenho para mim
que Deus a nós apóstolos, nos pôs por últimos como condenados a morte. Somos
feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens"(42). Os anjos são
testemunhas do drama da salvação; estão interessados na conduta dos crentes
segundo 1Coríntios 4.9 vêem o que nós fazemos. Eles estão especialmente o
declara. A Bíblia ensina que os anjos louvam e nos observam. Eles estão
observando cada um de nós porque são ministradores. Não é observar para dizer,
"Ah, fulaninho está fazendo tal coisa. Vou anotar e dizer a Deus".
Anjo não é alcagüete de Deus mas são nossos observadores, e a Bíblia diz que
são até chamados como testemunhas(43).
NO FUTURO
Há um futuro papel dos anjos. Está em Mateus 24. Diz que "Quando o Senhor
vier, Ele mandará Seus anjos para reunir os Seus eleitos de todos os quadrantes
do mundo". Onde houver um crente em Jesus Cristo, o anjo vai lá e o trás
no momento do grande Arrebatamento. Quando isso acontecer, a palavra de Jesus
ensina que são os anjos que virão nos buscar.
Há valores teológicos inigualáveis nas declarações bíblicas sobre os anjos.
Preciosíssimas lições:
Ø A primeira é que a Bíblia declara que ao lado do mundo que nós vemos Deus
criou um outro mundo de espíritos invisíveis, de seres puros que O servem. A
Deus e a nós também. No Salmo 103.20 está dito, "Bendizei ao Senhor, anjos
seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, que obedeceis à sua
voz"(44).
Ø A segunda lição que tiramos é que Deus não perdoa a rebeldia. Que é
desobediência, orgulho, e atentado à ordem dos Seus planos(45). Por esse
motivo, Deus não perdoou os anjos que se rebelaram, os quais foram condenados à
eterna separação Dele. Deus não perdoa a nossa rebeldia também, a nossa
insensatez, e a nossa desobediência. E a Bíblia declara que "O salário do
pecado é a morte"(46).
Ø O ministério dos anjos na Bíblia é doutrina importante, doutrina essencial
para que entendamos a providência de Deus e a direção soberana da Sua criação.
Nós sabemos que a intervenção guiadora dos anjos na dispensação da Lei é
substituída pela direção do Espírito Santo na dispensação do Novo Testamento. O
Senhor não autoriza o culto aos anjos. E a idéia de anjos medianeiros também é
um absurdo porque eles usurpam o lugar de Jesus Cristo. Os anjos são poderosos,
mas não são Deus; são poderosos, mas não são a Trindade; são poderosos, mas não
são o Espírito Santo; têm poder, mas não são Jesus Cristo, não são mediadores,
não têm o atributos de Deus, não possuem qualquer capacidade de regenerar o ser
humano.
BOM ESTUDO A TODOS , APÓS TERMINAR COMENTE , DEIXE SUA OPINIÃO !!!
ASS: MARCUS VINICIUS