sábado, 14 de março de 2015

LIÇÃO 11 -não dirás falso testemunho

O nono mandamento – não dirás falso testemunho

                               O NONO MANDAMENTO
                           Não dirás falso testemunho
 Texto Básico: Êxodo 20.16;  Deuteronômio 5.20
Para ler e meditar durante a semana
– Ef 4.25 – Fale sempre a verdade;
– 3Jo 4 – Viva na verdade;
– Pv 31.9 – Proclame a verdade aos pobres;
– Fp 4.8 – Ocupe a mente com a verdade;
– Jo 14.6 – Deus é a verdade;
– Jr 14.13-15 – Falsos profetas;
– Tt 3.2 – Seja verdadeiro e gentil no falar
                                                                    INTRODUÇÃO
O puritano Thomas Brooks (1608–1680) disse que “nós conhecemos os metais pelo som que produzem e os homens por aquilo que falam!”. Jesus disse que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34). As palavras que saem da boca de um homem são uma expressão bem clara de quem ele é de fato. Deus se preocupa muito com as palavras que saem da nossa boca, por isso nos deu o nono mandamento – “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”.

QUAL É O SIGNIFICADO DO NONO MANDAMENTO?
O nono mandamento é mais uma maneira de expressarmos amor ao nosso próximo; neste caso, preservando a sua honra por meio de nossas palavras. Isso fica claro nos catecismos reformados1 que interpretaram o mandamento como uma maneira de conservar e promover a verdade entre todos os homens. O Catecismo Maior de Westminster, por exemplo, traz uma bela definição de seu significado na resposta à pergunta 144:
… conservar e promover a verdade entre os homens e a boa reputação do nosso próximo, assim como a nossa; evidenciar e manter a verdade, e de coração, sincera, livre, clara e plenamente falar a verdade, somente a verdade, em questões de julgamento e justiça e em todas as coisas mais, quaisquer que sejam; considerar caridosamente os nossos semelhantes;
amar, desejar e ter regozijo pela sua boa reputação; entristecer-nos pelas suas fraquezas e encobri-las, e mostrar franco reconhecimento dos seus dons e graças; defender sua inocência; receber prontamente boas informações a seu respeito e rejeitar as que são maldizentes,
lisonjeadoras e caluniadoras; prezar e cuidar de nossa boa reputação e defendê-la quando for necessário; cumprir as promessas lícitas; empenhar e praticar tudo o que é verdadeiro, honesto, amável e de boa fama.
O nosso Deus é a Verdade (Jo 14.6) e ele “não pode mentir” (Tt 1.2), pois ele “não é homem para que minta” (Nm 23.19). Ele espera que, como seus filhos, a verdade flua de nossas bocas e não o engano. Assim como parte de um código simples e prático, divinamente estabelecido, a observância do nono mandamento contribuirá para a harmonia no convívio social.
Em resumo, ninguém deve causar dano ao próximo por meio de palavras proferidas por sua boca, antes, deve fazer uso de sua língua para falar o bem e a verdade para todos.

PROIBIÇÕES DO NONO MANDAMENTO
>> A mentira
A mentira surgiu bem cedo na história da humanidade. Satanás, pai da mentira (Jo 8.44), no Éden, disse a primeira mentira registrada na Bíblia. Primeiro com uma indução (“É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”, Gn 3.1) e depois com a mentira propriamente dita (“É certo que não morrereis”, Gn 3.4). Os nossos primeiros pais caíram em pecado justamente por não acreditarem nas palavras de Deus e sim nas mentiras proferidas pelo diabo.
A mentira não deve fazer parte da vida dos filhos de Deus. Ele ordenou: “…nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo” (Lv 19.11). “Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR” (Pv 12.22). Temos de abominar e detestar a mentira (Sl 119.163), rogando ao Senhor que a afaste de nós (Pv 30.8).
O nosso compromisso é com a verdade, por isso, “não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos” (Cl 3.9; cf. Ef 4.25).
>> Juízos falsos e calúnias Não devemos prejudicar a boa reputação do nosso próximo com juízos falsos, especialmente em público. Em Levítico 19.15, lemos: “Não farás injustiça no juízo: nem favorecendo o pobre, nem comprazendo ao grande: com justiça julgarás o teu próximo”. Esse mandamento nos alerta para a cautela com a qual devemos abrir a nossa boca para nos referir ao nosso próximo. Devemos ter cuidado redobrado ao denunciar alguma pessoa, pois não podemos ajudar a condenar alguém levianamente, ainda mais sem o ter ouvido primeiro. Deus não deixará impunes os caluniadores. Essa verdade é reiterada no livro de Provérbios: “A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras não escapa” (Pv 19.5). Deus abomina a “testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos” (Pv 6.19). O verdadeiro homem de Deus “… não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho” (Sl 15.3).
>> Boatos falsos, fofocas, tagarelices
Todo tipo de boatos sem fundamento, fofocas e conversas infrutíferas sobre alguém que visam prejudicar a reputação do próximo são formas de quebrar o nono mandamento. A Escritura alerta: “Irmãos, não faleis mal uns dos outros” (Tg 4.11). Em outro lugar, ordena: “não difamem a ninguém, nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens” (Tt 3.2). Salomão disse que “o homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos” (Pv 16.28).
Em Levítico, lemos: “não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu próximo” (Lv 19.16). Não nos enganemos, “as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33). Quanto mais a nossa boca se abre para falar coisas contra o próximo, mais destruímos a eles e a nós mesmos. Devemos tomar muito cuidado com as conversas que temos uns com os outros. Quais são as palavras que provém da nossa boca quando estamos falando do nosso próximo?
>> Insultos, xingamentos, maledicências
Outra maneira de destruir a imagem do próximo diante das pessoas é por meio de insultos. Quanto a isso, note as palavras de Jesus no sermão da montanha: “… todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5.22). Nesse texto vemos a importância que o nosso Salvador dá a nossa maneira de falar uns com os outros. Ele proíbe o insulto, pois ele é figuradamente uma forma de assassinar um indivíduo.
Jesus faz referência a um insulto comum naquela época, que foi traduzido para o português por “tolo”. A palavra original é racá. Essa expressão traduz todo o espírito do insulto, pois significa dizer que o outro é um “nada”. Pare, pense e analise se todos os palavrões de hoje em dia não se baseiam nesta intenção: dizer que o outro não vale nada. Sem dúvida isso se encaixa no que é conhecido como bullyng, isto é, qualquer ato de violência física ou psicológica intencional e repetido por uma ou mais pessoas gerando dor e sofrimento em outra pessoa.
>> Falsidade e falsos profetas
A falsidade é a característica do hipócrita, daquele que finge que algo aconteceu, tanto para o bem como para o mal de alguém. No salmo 12.2, percebemos que realmente existem duas maneiras de praticar a falsidade: “Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido”. Neste sentido, Deus condena tanto os que mentem para depreciar a reputação do próximo quanto os bajuladores.
De acordo com a Bíblia, podemos falsificar até a nós mesmos diante de Deus. Um exemplo disso é a oração do fariseu, ilustrada por Jesus em Lucas 18.11: “O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano”. Esse é um caso no qual há falsidade tanto na oração a Deus quanto na depreciação do próximo.
Por fim, a Bíblia dedica muita atenção para um tipo de testemunho falso, o dos falsos profetas. Eles não apenas estão enganando as pessoas com as suas palavras mentirosas, estão tentando enganar o próprio Deus, falando o que Deus não falou. Observe a conversa que Jeremias tem com Deus sobre os falsos profetas:
Então, disse eu: Ah! SENHOR Deus, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada, nem tereis fome; mas vos darei verdadeira paz neste lugar. Disse-me o SENHOR: Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu íntimo são o que eles vos profetizam. Portanto, assim diz o SENHOR acerca dos profetas que, profetizando em meu nome, sem que eu os tenha mandado, dizem que nem espada, nem fome haverá nesta terra: À espada e à fome serão consumidos esses profetas (Jr 14.13-15).
III. DEVERES EXIGIDOS PELO NONO MANDAMENTO
>> Amar e falar a verdade
Uma maneira de evidenciar nossa obediência a Deus quanto ao nono mandamento é amar sempre a verdade. A carta aos Coríntios nos lembra de que o amor “não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1Co 13.6). Quem ama de fato a Deus e ao próximo como a si mesmo deve ter sua real satisfação em falar a verdade.
Devemos falar a verdade porque somos um único corpo, isto é, membros uns dos outros. Mentir para o próximo é mentir para nós mesmos, é autoengano. Logo, falar a verdade é estar cada vez mais íntimo do meu próximo e mais pessoalmente lúcido. “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” (Ef 4.25).
Temos a responsabilidade de pensar muito bem na hora de escolher nossas palavras. Nenhuma torpeza deve estar em nossa língua, mas sempre palavras que irão transmitir a verdade e a graça de Deus para as pessoas. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).
Falar a verdade como um hábito é um sinal de que realmente Jesus Cristo nos salvou dos nossos pecados e o seu Espírito habita em nós, pois ele é a própria Verdade. O apóstolo diz: “Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3.9-10).
Jesus também diz no sermão do monte que o discípulo deve ter postura e falar sempre a verdade: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt 5.37). Temos glorificado a Deus falando as suas verdades uns com os outros?
>> Zelar pela boa reputação do próximo
Como nós podemos zelar pela reputação do nosso próximo? Parafraseando o Catecismo Maior de Westminster, devemos “amar, desejar e ter regozijo pela reputação deles. Ficarmos tristes pelas suas fraquezas e tentarmos encobri-las.
Devemos sempre reconhecer os seus dons e graças oferecidos por Deus, defender sua inocência e receber prontamente boas informações a seu respeito, rejeitando as que são maldizentes”.
Muitas vezes somos velozes para espalhar as falhas dos outros, mas lentos para promover as suas boas obras. Em Romanos 1.8, lemos que Paulo tomou conhecimento e se alegrou pelo estado da igreja de Roma, porque em todo o mundo era proclamada a fé dos cristãos romanos. Na mesma carta o apóstolo ensina que devemos nos “alegrar com os que se alegram” (Rm 12.15).
Paulo alegrou-se com os tessalonicenses, em como eles se tornaram o modelo de fé para as igrejas da Macedônia e da Acaia, pois “por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus” (1Ts 1.8). Os crentes das regiões citadas proclamavam a fé dos tessalonicenses e isso encheu de alegria o coração de Paulo. Da mesma maneira, nós devemos proclamar as virtudes uns dos outros, pois assim queremos que se faça conosco.
Além disso, defender os irmãos quando sofrem injustiças, é outra maneira de obedecer ao nono mandamento. Somos chamados a defender a verdade de Deus, a defendermos uns aos outros e não nos calarmos diante de mentiras que proferirem contra nós, em especial contra a igreja de Cristo.
Jesus transparece a prática de zelar pela reputação dos nossos irmãos quando nos ensinou a corrigir um irmão em pecado: “Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mt 18.15). Não devemos expor os pecados dos irmãos, a menos que eles permaneçam no pecado, impenitentes, e, mesmo assim, somente após duas tentativas sem sucesso. Será que é um hábito nosso falar das boas obras uns dos outros ou apenas das falhas?
>> Domínio próprio
Uma das virtudes cristãs que mais está relacionada ao nono mandamento é o domínio próprio (Gl 5.23). Quando Cristo faz habitação em nós, nosso corpo passa a ser dirigido por ele, principalmente a nossa língua. O novo elemento que o cristão recebe de Deus para lidar com a sua língua é exatamente o poder de autocontrole.
Tiago mostra a dificuldade que o homem tem de dominar a sua língua: “… a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero” (Tg 3.8). No entanto, ele também diz que não há razão para o cristão desobedecer ao nono mandamento. A figueira não produz azeitonas, a videira não produz figos e a fonte de água doce não jorra água salgada (Tg 3.12). Por meio dessas figuras, ele conclui que o cristão regenerado pode, sim, domar a sua língua. Caso contrário, como é possível com uma boca bendizermos a Deus e com a mesma boca amaldiçoarmos os homens, criação de Deus? Ou fazemos uma coisa ou outra. Vamos pensar sobre isso. Temos conseguido domar a nossa língua?
CONCLUSÃO
O nono mandamento deve orientar todas as relações possíveis que tivermos com o nosso próximo, no tocante à verdade e às palavras. Da mesma maneira, como muitos usam a língua para amaldiçoar, Deus deseja usar a nossa boca para alcançarmos as nações com o evangelho. A nossa missão como cristãos é essencialmente executada por meio de palavras. Que as lições aprendidas sobre o nono mandamento nos auxiliem na vida cotidiana, com todas as pessoas ao nosso redor. Que realmente aprendamos a glorificar a Deus e alcançar o coração das pessoas com nossas palavras.
APLICAÇÃO
Quais são as principais proibições do nono mandamento que você tem tido mais problemas? Você tem glorificado a Deus com as suas palavras e conversas? Tem zelado pela boa reputação das pessoas ao seu redor? Tem dominado sua língua ou é ela que tem dominado você?
–  Autor do estudo: Jean Francesco Afonso Lima Gomes

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