terça-feira, 29 de março de 2016

Lição 01 - A Epístola aos Romanos (Adulto)

                                                Introdução da Epístola aos Romanos
A Carta de Paulo aos Romanos é uma das mais belas obras literárias já escritas. E uma carta diferenciada. A influência que esse documento canônico causou na história do pensamento cristão é simplesmente impressionante! Começando no século V com Agostinho, bispo de Hipona, que no início da Idade Média foi grandemente impactado pela leitura de Romanos. Embora não possamos endossar tudo aquilo que Agostinho escreveu, todavia é inegável a sua contribuição para a Teologia e Filosofia. No século XVI, essa carta também exerceu uma poderosa influência sobre Martinho Lutero, o grande reformador alemão. Foi fundamentado em Romanos que Lutero lançou o lema da Reforma: A justificação pela fé somente! Em anos mais recentes, Karl Barth, teólogo suíço, também testemunhou a grandeza dessa carta.
A Carta aos Romanos foi escrita para a igreja. Foi endereçada a pessoas simples, provenientes de todas as camadas da população e sem distinção de cor ou de raça. Não foi endereçada a teólogos, eruditos, nem tampouco a especialistas em religião. A carta foi escrita com o propósito de edificar a igreja, tirar dúvidas e esclarecer questionamentos que a nova fé estava provocando. Junte-se a isso o desejo do apóstolo em contar com o apoio dos romanos no estabelecimento de uma nova base missionária. Romanos, portanto, é uma carta escrita para todos nós.
Sem dúvida, a temática abordada por Paulo nessa carta é uma das mais diversificadas do Novo Testamento. Embora não contemple todas as doutrinas do Novo Testamento, aborda as principais. A doutrina da justificação pela fé, independentemente das obras, é o principal eixo em torno do qual a carta se move. Somente em Romanos o conflito entre a “carne” e o “Espírito” aparece de forma tão dramática. Todo cristão quando lê Romanos se identifica com o “eu” paulino.
O apóstolo Paulo era um homem douto, treinado na principal instituição teológica de seus dias, tendo estudado com Gamaliel. O apóstolo estava consciente de que escreveria a um público diversificado, vindo de todas as camadas sociais, e que os assuntos por ele tratados eram profundos e complexos. Uma metodologia específica, portanto, deveria ser adotada. E foi o que ele fez. Na sua carta é possível perceber que o apóstolo recorre com frequência ao método dediatribe para aclarar os seus argumentos. Esse método consiste em um diálogo com um interlocutor imaginário com quem se dialoga, fazendo perguntas e oferecendo respostas. Mas não é só isso. Na carta é possível encontrar referências às regras de interpretação usadas pela escola rabínica de Hillel. O uso de duas dessas regras aparece com clareza na argumentação do apóstolo: a qal wahomer e a gezerah shawah. Na primeira regra, o que se aplica ao caso menos importante certamente se aplicará também ao caso mais importante. Na segunda regra, a analogia entre textos bíblicos, incluindo a semântica das palavras comuns em ambos, é usada para se estabelecer a veracidade de um fato.
A leitura da carta, portanto, é prazerosa e edificante. Todavia, não podemos deixar de registrar aqui os embates teológicos surgidos por conta das diferentes leituras que essa carta provocou. Não foi meu propósito ser dogmático em algumas questões de natureza puramente confessional, mas não deixei de registrar o meu entendimento de certas passagens que, a meu ver, receberam uma interpretação que destoa da argumentação adotada por Paulo nessa carta.
Não poderia deixar de dizer que o meu texto não é perfeito e que não possui lacunas. A propósito, as lacunas e as imperfeições fazem parte de nossa antiga herança, tão bem retratadas em Romanos. Todavia, devo dizer que este livro foi escrito com o propósito único de glorificar a Deus e de promover a edificação do seu povo. Foi escrito por um pastor que, no labor de seu trabalho pastoral, encontrou forças no Senhor para se lançar em tão grande missão — produzir um comentário de fácil entendimento, mas que fosse também teologicamente consistente.
Por último, as citações que faço neste livro de várias obras, muitas delas escritas por teólogos de diferentes confissões de fé, não significam que concordo com tudo o que eles dizem. Nem tampouco significa que concordo com suas crenças e confissões de fé. Cito-os tomando por base a validade de cada argumento dito. Faço minhas as palavras de Tomás de Aquino, o gênio intelectual da escolástica: “Os argumentos não devem ser aceitos pela autoridade de quem diz, mas pela validade do que se diz”.

Romanos 1.1-6
Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, —Jesus Cristo, nosso Senhor, pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome, entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo.

Paulo, o Apóstolo da Graça
“Paulo...” (1.1). A Carta aos Romanos tem início com a identificação do nome de seu autor, Paulo. Há uma unanimidade entre os intérpretes conservadores da autoria paulina de Romanos. Stanley Clark, autor de um excelente comentário sobre Romanos, observa que “a carta afirma que seu autor é Paulo o apóstolo (1:1). Esta afirmação tem sido questionada seriamente. A evidência interna (estilo, conteúdo, circunstâncias do autor) a confirma e tem sido a convicção entre os crentes desde os primeiros tempos. C. H. Dodd tem declarado que a autenticidade da Epístola aos Romanos é uma questão já resolvida”.
O nome Paulo é uma forma latina do hebraico Saul. Sabemos através do livro de Atos dos apóstolos que ele era natural de Tarso, cidade da Cilicia, hoje território turco. Paulo nasceu em um lar judeu e herdou por direito de nascimento a cidadania romana. Ele mesmo informa que seus pais eram fariseus (At 23.6) e por influência destes se tornou fariseu, estudando na Escola de Gamaliel (At 5.34; 22.3). Isso fez com que o seu zelo pelo judaísmo aumentasse e que se tornasse um ferrenho defensor de suas tradições. Motivado por esse zelo, passou a fazer uma perseguição sangrenta aos cristãos, levando muitos deles ao cárcere e à morte. E esse homem implacável que se torna posteriormente o maior defensor e propagador do cristianismo. Foi no encontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco, capital da Síria, que Paulo teve sua vida totalmente mudada (At 9.1-22). A graça de Deus superabundou em sua vida.
"... servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (1.1).Duas coisas Paulo diz acerca desse seu chamamento: ele agora era um “servo” de Jesus Cristo e que foi “separado” para o evangelho. A palavra “servo” traduz o termo grego doulos, cujo sentido é “aquele que pertence a outro”. A vida de Paulo não pertencia mais a ele mesmo, mas a Jesus Cristo, o Senhor! Em segundo lugar, Paulo, além de servo de Jesus Cristo, foi também “separado” para ser um apóstolo. O particípio perfeito passivo do verbo grego aphorizo (separado) mostra que ele havia sido separado para Deus e continuava dentro dessa nova fronteira que fora demarcada para seu chamamento. Sua missão agora era ser um enviado de Deus para onde Ele o mandasse. O termo “apóstolo” assume uma conotação teológica no Novo Testamento, cujo sentido é “enviar (para fora) para servir a Deus com a própria autoridade de Deus”. Sim, Paulo não era agora um mero zeloso da lei, mas um apóstolo, um enviado pelo Senhor para conquistar o mundo para Deus.
"... pelo qual recebemos a graça” (1-5). Aqui aparece pela primeira vez na carta aos Romanos a palavra “graça” (gr. charis). Essa palavra, que sem dúvida predomina no pensamento teológico de Paulo, ocorre 164 vezes no texto do Novo Testamento grego, sendo 23 vezes somente em Romanos. Sem exagero algum, Romanos é uma carta cheia da graça! A graça se torna um tema fundamental na teologia paulina. Na verdade, o principal eixo de sua teologia. Paulo se sentia devedor dessa graça! Qualquer leitor atento observará que a graça está no início e no fim das suas obras literárias. Por exemplo, em 1 Coríntios, Paulo mostra que a graça impede que o passado o machuque. “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.9,10a). Paulo não negou o seu passado e já sabemos que seu passado não foi nada agradável. Todavia, ele, totalmente imerso na graça de Deus, sabia que seu passado tinha ficado para trás. Mas a graça fez mais! A graça não permitiu que ele ficasse choramingando pelos cantos, caindo na inércia por se sentir um “Zé Ninguém”. Não, a graça não permitiu que ele ficasse inoperante. Ela o impulsionou para o trabalho. “E a sua graça para comigo não foi vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1 Co 15.10). Essa mesma graça o ajudou a superar os obstáculos e a conviver com as adversidades. “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte” (2 Co 12.9,10). Que mais fez a graça por ele? Ela o salvou: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8); fez com que fosse um vencedor: “Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.57) e um embaixador do Reino de Deus: “E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus, Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério” (1 Tm 1.12). Tudo feito pela graça!
Romanos 1.7-15
A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Primeiramente, dou graças ao meu Deus, por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé. Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós, pedindo sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco. Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados, isto é, para que, juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, tanto vossa como minha. Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também entre os demais gentios. Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes. E assim, quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma.

Amados Romanos
“A todos os que estais em Roma... ” (1.7). Paulo não foi o fundador da igreja que estava em Roma, mas possuía um desejo ardente de visitá-la. Ele sabia que seu apostolado era para os gentios e sabia também que a igreja de Roma era formada predominantemente de gentios (Rm 1.6). Todavia, endereça sua carta a “todos os crentes” de Roma. William McDonald observa que a expressão “todos” deve ser entendida no contexto de que em Roma, capital do império, não havia apenas um local de culto, mas vários, e Paulo queria que todos tomassem conhecimento dessa carta.6 Mas se Paulo, que fundou quase todas as igrejas do Novo Testamento, não foi quem levou o evangelho para Roma, quem foi então? Não há elementos que nos permitem ser dogmáticos nesse assunto, mas os intérpretes acham indícios que permitem fazer deduções. Por ocasião do Dia de Pentecostes, entre os que receberam o batismo no Espírito Santo estavam “romanos que aqui residem” (At 2.10, ARA). Teriam sido esses crentes romanos que se encontravam em Jerusalém, depois de serem cheios do Espírito Santo, que voltaram para Roma com a preciosa semente do evangelho. Roma, portanto, era uma igreja que nasceu do Pentecostes.
“... Chamados santos” (1.7). Como costuma fazer em outras cartas, Paulo se dirige aos crentes usando o adjetivo “santos”. “Santo” (gr. hagios) era aquilo que fora separado para um serviço especial. Aqui significa dedicado a Deus, santo e sagrado. Os crentes são santos porque foram separados para pertencerem a Deus. O conceito de santificação posicionai já aparece aqui nessa expressão. Em Cristo todos os crentes são santos porque foram comprados com seu sangue e, portanto, pertencem a Ele (1 Co 6.19,20). O conceito de santificação progressiva, aquela na qual o crente tem sua participação efetiva, aparecerá na argumentação de Paulo no capítulo 8 dessa carta. Infelizmente, o conceito de santidade se encontra de tal forma relativizado que quase não é mais possível se distinguir o santo do profano. Santidade tem a ver com o estabelecimento de limites e a diferença clara entre o que é certo e o que é errado. O parâmetro é sempre dado pela palavra de Deus. Infelizmente, quem está ditando os padrões para as igrejas não é mais a Bíblia, e sim a cultura secular. E impressionante a facilidade que têm muitos crentes de se moldarem por aquilo que o mundo dita. Se o mundo permite se divorciar por qualquer motivo, então muitos crentes acham que devem fazer o mesmo. Quem se levantar contra é logo taxado de falso moralista! Todavia, a Escritura chama isso de mundanismo! Mundanismo é pecado.
"... em todo o mundo é anunciada a vossa fé” (1.8). Esse versículo mostra a influência que a igreja de Roma exercia. Paulo reconhece que a fé deles já era notícia no mundo todo. Era uma igreja que todo mundo sabia que ela existia. Talvez a tragédia da igreja hoje esteja no fato de ela passar despercebida na sociedade. Poucos sabem da sua existência e os poucos que sabem não se sentem mudados por ela. Qual seria, pois, a razão da pouca influência da igreja contemporânea? Não podemos ser simplistas, mas evidentemente que existem causas para esse fenômeno de esfriamento das igrejas. Um pneumatismo anárquico, que tem lançado a igreja numa verdadeira corrida sensorial é uma das razões. A busca desenfreada por realização, por prazer, tem transformado a igreja em uma comunidade de consumidores, e não de adoradores. A busca por mais adrenalina não está acontecendo apenas em esportes radicais, mas também em muitos cultos. Infelizmente, as igrejas neopentecostais estão na vanguarda dessa nova espiritualidade. Por outro lado, as ortodoxias engessantes também são nocivas da mesma forma. Cultos frios, em que o ritual não dá a mínima liberdade para o exercício dos dons espirituais, é um veneno para a espiritualidade da igreja. Não devemos ser contra a liturgia, pois todo culto a Deus necessita possuir um ritual litúrgico. Todavia, foi o mesmo Paulo quem esboçou os princípios de uma liturgia de uma igreja onde o Espírito não está engessado. “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co 14.26).
“... incessantemente faço menção de vós, pedindo sempre em minhas orações” (1.9,10). Uma das marcas da espiritualidade de Paulo é sua profunda piedade cristã. Paulo era um homem devotado à oração. Mesmo não conhecendo ainda a igreja de Roma, ele se lançava em um trabalho de intercessão por ela. Alguns pensam que a oração ficou restrita aos menos letrados, aos místicos. Todavia, aqui encontramos um homem com uma profunda formação teológica, um verdadeiro erudito, que não negligenciava sua vida devocional. O teólogo anglicano Alan Jones observou que quem pensa não ora e quem ora não pensa! Essa parece ser a lógica da espiritualidade dos clérigos do século XXI. Não é de admirar que se encontrem tantos clérigos vazios, mas cheios de si mesmos. A devoção foi substituída pela busca da posição. Como disse o filósofo Antônio Cruz, a carne sufocou o espírito.
“.„para vos comunicar algum dom espiritual” (1.11-13). A expressão “dom espiritual” traduz o grego charisma pneumatikon. O expositor bíblico Stanley Clark observa três usos dessa palavra no contexto de Romanos. Primeiramente, ela é usada em referência ao dom da graça, Cristo Jesus, que Deus deu a todos os homens (Rm 5.15,16). Em segundo lugar, a referência aos dons que Deus outorgou ao povo de Israel (Rm 11.29). Em terceiro lugar, uma capacidade especial que Deus deu a um membro da igreja para que seja usado no ministério (Rm 12.6). Eu me junto àqueles que veem aqui o terceiro sentido. A expressão charisma peneumatikon é a mesma encontrada nos capítulos 12 a 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, onde a referência é aos dons espirituais. Não há dúvida de que aqui essa expressão tem significação similar ao encontrado ali. Muitos intérpretes, quando leem as cartas de Paulo, as leem com os óculos da cultura onde vivem. Não se dão conta do contexto espiritual da igreja do primeiro século. A igreja de Roma, como foram todas as outras do Novo Testamento, era filha do Pentecostes. Ela entendia a linguagem do apóstolo sobre os carismas do Espírito porque também os vivenciava. Paulo queria naquela visita compartilhar os frutos de sua experiência com Deus e da mesma forma queria se sentir abençoado com aquilo que Deus também havia feito na vida daqueles crentes. Há muita gente criticando experiências espirituais sem nunca as ter vivido.

Romanos 1.16,17
Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.

A Graça que não Decepciona
“Porque não me envergonho do evangelho...” (1.16,17). Em seu célebre comentário de Romanos, o expositor bíblico C. E. B. Cranfield observa que a forma “negativa em que Paulo se exprime deve ser explicada não como exemplo de atenuação (significando que ele, Paulo, está orgulhoso do evangelho), mas como refletindo o seu sóbrio reconhecimento do fato de que o evangelho é algo de que, neste mundo, os cristãos serão constantemente tentados a envergonhar-se.
(Podemos cf. Mc 8.38; Lc 9.26; 2 Tm 1.8.) A presença desta tentação como característica constante da vida cristã é inevitável, não só por causa da contínua hostilidade do mundo para com Deus, mas também por causa da natureza do próprio evangelho, o fato de que Deus (porque Ele determinou deixar espaço aos homens para tomarem decisão pessoal livre, em vez de compelidos) interveio na história para a salvação dos homens, não com poder e majestade manifestos, mas de maneira velada, era destinado a ser visto pelo mundo como fraqueza e insensatez vis”.
Essa, evidentemente, é a graça que não decepciona. A graça de Deus não é motivo para vergonha nem tampouco envergonha ninguém. Todavia, há algo por aí se passando por “graça” que não tem graça alguma. Essa “graça”, além de envergonhar o evangelho, está produzindo grandes escândalos. Todo tipo de aberração ética, teológica, comportamental e até mesmo espiritual estão sendo justificados por essa suposta graça. É uma graça que não tem graça. Quando a graça perde a graça, ela já não é mais graça, mas uma desgraça. A propósito, a palavra grega traduzida aqui como “envergonhar” é epaischynomai que é formada pela junção da preposição epi e o verbo aischyno. A palavra composta tem seu sentido intensificado, significando desonrado, desgraçado. Em outras palavras, refere-se a alguém que caiu em desgraça ou que foi desonrado. Ao colocar a negativa “não” antes desse vocábulo, Paulo diz que se sente honrado pela mensagem que abraçou. Ela não o decepciona.
"... é opoder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (1J6). O evangelho é motivo de honra, e é muito mais. O evangelho é o poder de Deus que traz salvação a todo que crer. “Poder” traduz o termo grego dynamis, de onde provém o nosso vocábulo dinamite. Essa palavra é usada 120 vezes no Novo Testamento e significa capacidade para executar. E uma referência à habilidade de Deus no processo da salvação.
O propósito dessa “explosão” do evangelho é salvação dos homens. O significado da preposição grega eis (para) tem o sentido de “tendo em vista a”, mostrando o propósito do evangelho. Ele é de fato o poder de Deus, mas não é um poder que busca o engrandecimento do homem, mas a glória de Deus. Infelizmente muitos parecem não saber disso e não se deixam usar pelo evangelho, mas em vez disso fazem uso do poder do evangelho para se autopromoverem. Buscam as suas próprias glórias e realizações.
Ao afirmar que o evangelho é o poder de Deus, o apóstolo tem em mente mostrar a razão do envio de sua carta aos romanos. Já tendo feito as cordialidades costumeiras que eram comuns nesse tipo de correspondência pessoal, ele agora introduz o assunto do qual passará a tratar a seguir. Ele vai explicar como a graça de Deus, objetivando a salvação de todos os pecadores perdidos, se manifestou de forma mais que abundante na pessoa bendita de Jesus Cristo. No dizer do poeta:

A graça de Deus revelada
Em Cristo Jesus, meu Senhor,
Ao mundo perdido é dada
Por Deus d’infinito favor.

Graça, graça,
A mim basta a graça de Deus: Jesus;
Graça, graça,
A graça eu achei em Jesus.

A graça de Deus é mais doce,
Do que bens terrestres daqui;
Em gozo meu choro tornou-se
Correndo Sua graça p’ra mim.

Mais alta que nuvens celestes,
Mais funda que profundo mar,
A fonte da vida fizeste,
Na qual nos podemos fartar.

A graça de Deus hoje prova
Tu que vives na perdição,
Pois Ele te salva, renova,
Também limpa teu coração.





Autor:  José Gonçalves

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