terça-feira, 12 de agosto de 2014

A fé se manifesta em obras – Lição 7

                                                  

                                         



                                                 Introdução
Neste capítulo, veremos a importância de manifestar nossa fé por meio de nossas obras. Veremos quais exemplos Tiago mostra de fé e obras sendo utilizadas para que o povo de Deus tenha modelos práticos a seguir, e a partir dessa nova visão de vida, ser um canal de bênçãos.
I. DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ SEM OBRAS É MORTA (Tg 2.14-17)
Caracterizando a verdadeira fé
Falar sobre fé implica diversos fatores. Ela precisa ter um conjunto de valores que estejam conjugados de forma doutrinária, um modelo de culto e uma forma de interação entre as pessoas que dessa fé participam. Mas a fé também precisa ser prática, ou seja, precisa ser demonstrada no dia a dia de seus crentes. E a fé cristã não pode ser resumida em um conjunto de preceitos sem prática, ou será morta aos olhos daqueles que nos observam.
O cristão e a caridade
Somos chamados para a prática de boas obras, e essas boas obras devem ser manifestas às pessoas próximas de mim. O exemplo apresentado por Tiago traz um homem ou uma mulher que estão padecendo necessidades básicas, como falta de roupas e falta de alimentação. A questão é: podemos dizer a uma pessoa nessas condições: “Vá para sua casa, se aqueça e coma bastante”, sem que possamos lhes dar o necessário para o seu corpo, como roupas e comidas? Parece ilógico que um cristão faça isso com outro irmão, mas ao que parece, era isso que estava acontecendo.
Talvez aqueles crentes que dissessem isso como se esperassem que Deus interviesse de forma sobrenatural na vida dos necessitados, enviando maná e codornizes, ou quem sabe, trazendo água, carne e pão. E Deus age dessa forma? Claro que não. Pensemos nos contextos bíblicos apresentados. Deus mandou o maná no deserto para o povo de Israel, e eles não apenas usufruíram daquele presente divino, mas aprenderam a lidar com ele de acordo com as orientações de Deus. Mas lembremo-nos de que esse povo estava saindo do Egito, estavam em um deserto e dependeram unicamente de Deus para sua provisão. Para Elias, Deus mandou carne por meio de corvos, e a água que o profeta precisava consumir vinha do ribeiro de Querite. Mas Deus ordenara a Elias que se dirigisse àquele lugar depois de desafiar o rei Acabe. Elias não foi para lá porque quis. Em ambos os casos, Deus mesmo proveu o necessário para um grupo imenso de pessoas, e depois para um único profeta.
Deus pode fazer esses milagres hoje? Sim, pode, mas já deixou claro orientações para que sejamos misericordiosos com os menos favorecidos e os auxiliemos. Deus é sim Deus do impossível, mas não é Deus do absurdo. O que eu e você devemos fazer Ele não vai fazer, pois espera que o obedeçamos e façamos a nossa parte.
A caridade é uma forma de demonstração da fé cristã. Essa forma de demonstração jamais nos permitirá ser indiferentes à pessoas que estão necessitadas de recursos.
Tiago não nos ordena a que falemos de Jesus às pessoas. Ele não nos manda curar enfermos ou profetizar para demonstrar nossa fé. Ele não nos manda ser ortodoxos em relação à teologia. Todas essas coisas são importantes, mas não mais que um irmão necessitado que espera socorro de Deus, socorro este que será feito por um outro irmão em nome de Deus.
Acredito que muitos cristãos pensam que fazer boas obras e caridade são atributos de outros grupos religiosos, e que Deus se preocupa muito mais com a salvação de almas do que com o restante dos dias dessas almas salvas. Esse é um pensamento errado. Há pessoas religiosas que praticam boas obras porque acreditam que por elas serão salvas. Há outras pessoas que utilizam as boas obras para se tornarem pessoas melhores nesta vida, ou para que purguem pecados supostamente praticados em “outras vidas” por meio da caridade. Em ambos os casos, o equívoco é claro. Boas obras não podem salvar uma pessoa por mais devota quer ela seja, nem mesmo atenuar para um futuro próximo atitudes ruins que teriam sido praticadas em uma suposta vida anterior.
Aqui está o problema. Muitos salvos em Cristo veem com indiferença as boas obras, por acharem que elas são a marca registrada de pessoas que querem ser salvas sem aceitar a Jesus. Mas só porque esses grupos de pessoas praticam boas obras, essas boas obras não atingem os mais necessitados, mesmo que não proporcione aos praticantes, a salvação? Sim, os mais necessitados são contemplados pelas boas obras que eles fazem e nós não fazemos.
As boas obras desses grupos não são inválidas, mesmo que não lhes dê a salvação. E nossa fé, como pode ser considerada se estiver divorciada de boas obras? Será que aos olhos de Deus ganhamos pontos extras com nossa indiferença para com os mais necessitados?
Tiago não conclui ainda seu pensamento. Para ele, mostrar a imagem de uma pessoa necessitada utiliza um recurso extremo para ilustrar seu pensamento: a fé em Deus apenas sem as práticas não nos torna melhores pessoas. Os demônios com certeza possuem um grande conhecimento sobre Deus, sabem de sua existência e estremecem. Mas nem por isso eles deixam de cumprir as ordens de Satanás. Eles sabem que Deus existe e o odeiam. Seu conhecimento de Deus os leva a manifestações cada vez mais rebeldes. Saber da existência de Deus e não praticar obras que coincidam com a mentalidade bíblica é, ressalvadas as devidas proporções, comparável à crença que os demônios têm. Saber da existência de Deus é apenas um processo. A prática de boas obras é a complementação desse processo.
Que Deus nos ajude a não apresentar ao mundo uma fé cristã morta, indiferente às necessidades de pessoas de nossas igrejas. Que eu não imagine que minha posição de conforto, onde estou saciado de necessidades básicas, me foi dada por Deus por ser eu um filho mais digno que outros filhos. Os mais necessitados da congregação são tão ou mais dignos, pois a estes, Deus deseja abençoar usando a minha vida como um canal. O socorro de Deus para essas pessoas está no bolso dos mais abastados. E que a caridade cristã seja um diferencial na nossa vida e na vida das pessoas que vamos socorrer, lembrando-nos de que nós mesmos poderíamos estar no lugar deles, e que se isso ocorresse, gostaríamos de receber a ajuda que daremos.
II. DOIS EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS (Tg 2.18-25)
Abraão
Abraão é considerado o pai da fé. Isso não significa que ele foi o primeiro homem a ter a fé em Deus, pois outros homens são destacados na Bíblia como sendo pessoas que criam e obedeciam a Deus antes de Abraão. Entretanto, a Palavra de Deus dá um destaque ao patriarca, pois Abraão creu em Deus e foi considerado um homem justo. E que momento da vida de Abraão é destacado por Tiago? Justamente o momento em que o patriarca vai oferecer seu único filho em holocausto ao Senhor. Aqui destacamos duas coisas: Abraão ouviu a voz de Deus quando Ele ordenou que o patriarca oferecesse seu filho em holocausto, mas também obedeceu a Deus quando Ele enviou seu anjo e ordenou a Abraão que não estendesse sua mão contra o moço, para o sacrificar. Foi sem dúvida uma prova difícil, mas Abraão confiou que Deus iria fazer o melhor, pois Ele mesmo havia prometido que faria de Abraão uma grande nação.
Ainda apresentando Abraão, Tiago diz que “...o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé” (Tg 2.24). Como lidar então com essa declaração de Tiago? As obras seriam um complemento para a fé salvífica?
Tiago busca a praticidade da fé na vida cristã. Ele não declara em momento algum que as obras salvam, se não a fé em Jesus seria incompleta. Nem está colocando em cheque os ensinos de Paulo sobre a salvação pela fé. O que ele está argumentando é que a fé precisa ser demonstrada em atitudes. Matthew Henry coloca esse assunto assim:
Quando Paulo diz que “o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3.28), ele claramente fala de um outro tipo de obras do que Tiago tem em mente. Paulo fala em obras realizadas em obediência à lei de Moisés, e antes de os homens abraçarem a fé evangélica. E ele estava lidando com aqueles que se valorizavam tanto por conta das obras que rejeitavam o evangelho (como Romanos 10 declara expressamente no início); mas Tiago fala de obras realizadas em obediência ao evangelho, e como efeito e frutos apropriados e necessários da sólida fé em Jesus Cristo.
Ambos estão interessados em exaltar a fé do evangelho, como aquele que somente pode nos salvar e justificar; mas Paulo o exalta ao mostrar a insuficiência de quaisquer obras da lei antes da fé, ou em oposição à doutrina da justificação por Jesus. Tiago exalta a mesma fé, ao mostrar que são as realizações e os produtos genuínos e necessários dela.
Ainda dentro desse enfoque, Matthew Henry continua:
Paulo não somente fala de obras diferentes daquelas em que Tiago insiste, mas ele fala em um uso completamente diferente que era feito das boas obras daquele que aqui é instado e intencionado. Paulo estava lidando com aqueles que dependiam de suas obras aos olhos de Deus, e Ele poderia muito bem torná-los sem valor. Tiago estava tratando com aqueles que exaltavam a fé, mas não permitiam que as obras fossem usadas nem como evidência; eles dependiam de uma mera profissão de fé, como suficiente para justificá-los; e com esses ele bem teria de reforçar a necessidade e a grande importância das boas obras.
Raabe
Raabe é trazida como um exemplo de fé na Carta de Tiago. Primeiro o apóstolo fala de Abraão, o pai da nação israelita, mas depois apresenta uma mulher igualmente de fé. A origem de ambos é diferente, mas a Bíblia apresenta no texto os atos de cada um relacionados com suas crenças.
Raabe era uma prostituta de Jericó. Ela ganhava a vida oferecendo seu corpo para saciar a lascívia dos homens. Ela não conhecia ao Senhor, mas depois que soube o que Deus fez com Israel, abrindo o rio Jordão na época da cheia, seu coração se encheu de temor e fé no Deus dos hebreus. Sua fé foi de tal forma impressionante que ela escondeu em sua casa os espiões que Josué mandou para verem a cidade, e além de os esconder, orientou que fossem por um caminho diferente do caminho de seus perseguidores.
Esse foi sem dúvida um ato de fé. Ela colocou sua própria vida em risco para proteger os espiões de Israel, mas por sua fé, por crer que Deus realmente iria destruir aquela cidade, ela não apenas protegeu os emissários de Josué, como também pediu por sua própria vida e pela vida de seus parentes.
Aqui cabe uma observação.
Dentro dessa mesma narrativa associada à queda de Jericó, em que uma mulher ímpia aprendeu a ter fé em Deus, vemos o caso de Acã, um homem do povo de Deus que não pensou duas vezes para roubar aquilo que Deus disse que não deveria servir de despojo de guerra.
É uma conclusão triste, mas real. E possível encontrar em nossos templos pessoas que congregam conosco mas que perderam o temor ao que Deus ordena, mas também podemos encontrar fora da igreja pessoas que terão mais fé naquilo que Deus falou.
Tiago usa as figuras de Abraão e de Raabe como exemplo de que não basta apenas ter uma fé, e sim que é preciso colocá-la em prática. Fé não pode ser um conceito doutrinário pronto apenas para ser apresentado e ensinado, mas acima de tudo, vivido. E essa fé pode ser manifesta de diversas formas. Abraão tinha uma promessa de Deus para sua vida, a de que seria pai de uma grande multidão de pessoas. Raabe não tinha nenhuma promessa, mas confiou em Deus mesmo assim, com base no que ela ouviu sobre o que o Eterno tinha feito, e foi salva junto com sua família.
III. A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A FÉ SEM OBRAS (Tg 2.26)
O Corpo sem o espírito
Um dos pressupostos do cristianismo é que a vida é um dom de Deus, e esse presente é fruto da junção da parte material do ser humano (o corpo) e a parte imaterial (alma e espírito). Isso significa que se alguma dessas duas partes se separar, a vida se extingue. A morte separa essas partes. Nesses casos, não resta nada ao corpo a não ser sepultado, para que se decomponha.
Tiago apresenta esse recurso comparativo para mostrar o quanto uma fé sem prática é ineficaz. Um corpo sem espírito pode ser completo, mas está morto. Ele possui coração, pulmões, cérebro, membros, sistemas digestivo, nervoso, respiratório e circulatório, mas nada disso funciona porque nele não há vida. Uma vez morto, o corpo se degenera, exala mau cheiro e se torna repugnante para as pessoas. Para esse ser que antes estava vivo, nada mais resta senão ser sepultado, ou contaminará o ambiente dos que estão vivos.
Fé sem obras
A fé sem obras é igualmente passível de ser extinta, de ser apenas um movimento intelectual. Pode haver teologia, mas sem prática da fé cristã demonstrada nas obras, a teologia será apenas um pensamento distante, mesmo que ortodoxo.
Já vimos que Tiago e Paulo não se chocam quando tratam de fé e obras. Eles escrevem sobre o mesmo assunto de forma diferente para públicos e situações diferentes. “A justificação de que Paulo fala é diferente da tratada por Tiago; uma fala de nossa pessoa ser justificada diante de Deus, a outra fala da nossa fé ser justificada diante dos homens.”
O apelo de Tiago é para que os cristãos demonstrem suas obras como uma representação de sua fé. Trata-se de um desafio diário, não um momento estanque e único na vida de uma pessoa.
Timothy B. Cargal informa que há um jogo de palavras na sentença de Tiago: “A fé sem as obras (ergon) é morta (arge, isto é, a + ergon, sem efeito). Sabemos que uma pessoa recebe a salvação pela fé, mas deve demonstrar sua fé por meio das obras. A fé correta faz o crente agir de forma correta.
Assim completamos este estudo. A fé deve nos mover em prol de boas ações, não para ser salvos, mas para demonstrar que somos salvos, que nossa fé não é estática, e que Deus pode usar nossas ações para fazer apresentar a fé pura e imaculada.

Alexandre Coelho

Bibliografia utilizada neste capítulo
Manual da Bíblia de Aplicação Pessoal. CPAD
Vincent — Estudo no Vocabulário Grego do Novo Testamento. CPAD
Mathew Henry — Comentário Bíblico do Novo Testamento — Atos a Apocalipse. CPAD
Comentário Bíblico Beacon — Volume 10. CPAD
Comentário Bíblico pentecostal do Novo Testamento — Volume 2. CPAD
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. CPAD Teologia do Novo Testamento. Roy B Zuck. CPAD Dicionário Vine. CPAD
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Novo Testamento. Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
Dicionário Bíblico Wycliffe. CPAD.
O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Russel Norman Champlin. Milenium.
Uma Introdução aos Escritos do Novo Testamento. Erick Mauerhofer, Editora Vida.
Estudos no Cristianismo não Paulino. F F Bruce. Shedd Publicações.
Homens com uma Mensagem. John Stott. Cultura Cristã
Introdução ao Novo Testamento. D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris. Vida Nova.
O Novo Testamento, sua Origem e Análise. Merril C. Tenney. Vida Nova.

Panorama do Novo Testamento. Robert H. Gundry. Vida Nova.

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